Estudante da Escola da Escolha no MT tira 980 na redação do ENEN
- Em 27 de janeiro de 2025
Carlos Meira tem 17 anos e é de Nortelândia; ele estudou em uma escola estadual em Tempo Integral em Arenápolis
O último aluno a sair da sala. É assim que Carlos Meira, estudante da Escola Estadual Senador Filinto Muller, em Arenápolis (234 km a noroeste de Cuiabá), se lembra do primeiro dia de prova do Enem 2024, no qual entregou uma redação avaliada em 980. Apenas mais três estudantes da rede pública em Mato Grosso conseguiram esse feito.
Comecei a estudar sozinho em 2023, e foquei em fazer redação toda semana
Aos 17 anos e sonhando com o curso de Medicina na UFMT em Cuiabá ou na Unemat em Cáceres, Carlos começou a se preparar para o Enem quando tinha 16 anos, por conta própria.
Quando entrou no 1º ano do Ensino Médio, ele decidiu se matricular em uma escola de Arenápolis, vizinha à sua cidade natal, Nortelândia, pois era a única unidade próxima que oferecia estudo integral. A escola segue o modelo da Escolha da Escolha do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE).
A partir do 2ª ano, Carlos já seguia uma rotina intensa de estudos, de segunda a sábado, tirando somente os domingos para atividades de lazer. Ele produzia cerca de duas redações por semana, e dedicava os demais dias aos estudos das outras áreas de conhecimento.
“Comecei a estudar sozinho em 2023, e foquei em fazer redação toda semana. Com base nisso, conseguia saber onde estava errando, quais palavras eu não sabia escrever corretamente. E usava o aplicativo Glau, que corrigia a redação e me mostrava como eu podia melhorar”, contou.
A rotina e as redes sociais
Durante dois anos, Carlos viveu para os estudos. Das 7h às 16h30, ele frequentava as aulas na escola, e quando chegava em casa, era no quarto que passava o restante das horas.
Segundo ele, uma das estratégias que utilizou na prática em casa era aproveitar que o cérebro estava descansado e começar a estudar a área que tivesse menos habilidade. No caso dele, era Linguagens.
“Eu começava por Linguagens, depois estudava Humanas, Biologia, Exatas, e um dia da semana ou dois eu tirava só para redação. Fazia vários tipos de introduções, anotava filmes coringas, que se encaixam em qualquer tema”.
“Treinei bastante mesmo, de pegar temas sortidos, vários que eu via passando no jornal. Por exemplo, assisti um jornal, via um tema e pensava: ‘nossa, esse tema pode ser parecido com uma redação do Enem’. E escrevia uma redação sobre. Foi no treino mesmo”.
“O que mais me ajudou nesse ano foi o material do governo, o Pré-Enem. Ele vem com um livro de cada matéria, e tinha um que era só de redação. Ele vem com os QR codes e, em cada página, você consegue escanear e assistir uma vídeo aula do governo. Eu usei ele e me ajudou bastante”.
Carlos ainda contou que umas de suas maiores dificuldades no decorrer do ano foi a luta contra a procrastinação. Ele disse que, apesar de não ser um grande fã de estudo, entendi que era necessário e apesar das inconstâncias da vida, optou pela assiduidade.
“Acho que a procrastinação foi um ponto difícil. Porque você tem que estudar todo dia. E o fato de você não saber se vai passar ou não, eu acho que isso afetou também o psicológico. Também o fato de ficar sozinho no quarto. Eu não gostava, mas estudava na força do ódio”, brincou.
“Quem busca ter um resultado bom, não pode desistir. Nunca tirei uma nota acima de 940 treinando no aplicativo ou na escola, e nem por isso desisti. Acho que você tem que ter resiliência, que é o que mais te mantém na caminhada. Tem dia que você está cansado, tem dia que você está triste. Mas você tem que continuar treinando”.
Sobre as redes sociais, Carlos disse que foi uma ótima ferramenta aos estudos. O estudante disse que utilizava por, no máximo, 2 horas por dia, e sempre buscava por conteúdos que agregassem seu rol de conhecimento.
“Uso só o Instagram para falar com algumas pessoas, assistir alguns vídeos. Tenho a conta no TikTok, mas não tenho o aplicativo. Acredito que, dependendo do que você assiste, pode ajudar muito. Eu assistia vídeos da professora Priscila e também de outros professores que dão macetes, repertórios coringas, principalmente para a redação”.
A prova de redação
Carlos contou que na semana do Enem, que ocorreu em outubro, ele buscou auxílio com a professora Priscila Germogeschi, de Cuiabá, que é bastante reconhecida no meio. A ajuda foi tão prolífica, que das aulas saíram um dos exemplos utilizados por ele na redação.
“Quando peguei o caderno de prova, a primeira coisa que fiz foi ver o tema. Nisso, tudo que vinha na minha cabeça, fui anotando. Anotei todos os filmes, documentários, filósofos, palavras difíceis para aumentar o nível de dificuldade”.
“E aí fui fazer a prova de linguagens humanas, porque sempre tem uma questão sobre o tema. Foi nisso que eu achei uma questão que falava sobre a cultura afro-brasileira, o samba e a capoeira, que foi o que eu citei na minha redação”.
“Depois pensei que tinha que falar de um tipo de preconceito e de um tipo de exclusão. Lembrei do etnocentrismo, que é a ideia de que uma cultura é superior à outra, e foi a professora Priscila quem me apresentou esse conceito, e a exclusão digital”.
“Nisso, lembrei do documentário “O Riso dos Outros”, que aplicava o etnocentrismo, e foi ela quem me mostrou também. A exclusão digital eu citei Manuel Castells, que fala muito sobre o acesso à tecnologia. Esse filósofo foi a minha professora, Maria Voltolini, da escola, quem me apresentou”.
Escola pública e bom desempenho
Carlos afirmou que o fato de estudar em uma escola pública não é impeditivo para ter bom desempenho no Enem. Segundo ele, seu caso dependeu essencialmente do próprio esforço e disciplina.
“Acredito que não afeta em nada ser de escola pública. Parte muito do aluno. Nas escolas públicas e nas escolas privadas tem professores excelentes. A minha professora de português, Maria Voltolini, é excelente. Tem livro publicado, mestrado na área dela”.
“Da minha sala, fui o único aluno que conseguiu tirar uma nota acima de 900, e por isso eu falo que depende muito do aluno. Consegui aproveitar muito a minha professora dentro de sala, usufruí da competência dela. Ela me ajudou muito também na redação”.
Fonte: Mídia News – Angélica Callejas
Foto: Arquivo pessoal – Carlos Meira
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